[Entrevista] Teatro e Juventude: Construindo Vínculos e Transformando Experiências com Taylon Padilha Nizer

A cidade de Curitiba, com suas belas paisagens e seu clima peculiar, é palco de diversas manifestações culturais. Dentre elas, o teatro ocupa um espaço importante e, no coração deste cenário, encontra-se Taylon Padilha Nizer [1]. Graduado em Teatro pela renomada Faculdade de Artes do Paraná (FAP), Taylon não se contentou em apenas dominar as técnicas dramáticas, ele buscou compreender a essência do vínculo entre o espectador e a peça, especialmente quando se trata de jovens espectadores.

Professor Taylon tem a preocupação de tornar cada interação dos seus alunos com o teatro algo inesquecível. Desde o momento de expectativa, passando pela descontração no transporte, até o mágico fechar das cortinas, ele entende que o teatro vai além do palco: reside também nas conversas, nos vínculos que se formam no trajeto, na risada compartilhada. Estes momentos, muitas vezes subestimados, são cruciais para a imersão e a experiência completa, e Taylon, com sua sensibilidade, os valoriza como parte integrante da jornada teatral.

Seu artigo, “Para Além do Gostar: O Convívio e Experiência na Construção de Vínculos entre Espetáculos e Jovens Espectadores“, nos convida a refletir sobre as barreiras e os desafios enfrentados por jovens ao se aproximarem do universo teatral. Em um cenário de tantas distrações e estímulos, como o teatro pode ainda tocar os corações dos jovens? Qual o papel da mediação teatral nesta jornada? Como a cidade e seus desafios logísticos e sociais influenciam essa experiência?

Tanto em Curitiba quanto em Salvador, há um desafio comum: atrair mais jovens para o teatro e criar experiências significativas para eles. Esta entrevista é especialmente relevante para os leitores de Salvador, pois oferece insights que podem ser aplicados em nosso contexto local, ajudando a superar esse desafio. No blog da Duck Paper, estamos comprometidos em explorar e destacar a intersecção entre arte, cultura e educação, e acreditamos que a perspectiva de Taylon traz uma contribuição valiosa para essa missão.

Nesta conversa, o professor Taylon nos leva pelos bastidores de sua pesquisa, revelando suas inspirações, descobertas e, acima de tudo, sua paixão pela arte teatral e pelo potencial transformador que ela possui.

Prepare-se para ser transportado para os corredores da Faculdade de Artes do Paraná, para os teatros de Curitiba e, mais profundamente, para o universo daqueles que veem no teatro uma oportunidade de conexão, aprendizado e crescimento. Vamos começar?

O que o inspirou a investigar a relação entre jovens espectadores e o teatro em Curitiba?

Desde criança eu já tinha vontade de estudar teatro e atuação, mas isso não era muito comum na cidade em que morava com minha família (morávamos em São Mateus do Sul, PR). Nos mudamos para Curitiba justamente para que eu pudesse começar a faculdade de Artes Cênicas, na FAP – Faculdade de Artes do Paraná, da UNESPAR. Me apaixonei pelo curso e pelo fazer teatral, mas ao mesmo tempo sempre tive uma curiosidade acerca da área educacional. Para resumir a história, resolvi unir essas duas vontades e troquei de curso, migrando para a Licenciatura em Teatro, na mesma faculdade. E nessa nova jornada, conheci e aprendi a admirar o campo da formação de espectadores que, em síntese, consiste em levar um certo público a assistir algum espetáculo e promover práticas e atividades que o deixem ainda mais envolvido com a peça assistida. Quando chegou a hora de elaborar meu trabalho de conclusão de curso, sabia desde o início que era o meu desejo fazer algo nesse sentido, para aproximar mais jovens desse universo. Desse modo, quem sabe, eu poderia despertar em algum desses adolescentes uma nova vontade de conhecer mais sobre o teatro, assim como era o meu desejo quando tinha essa idade.

Por que é importante entender os motivos que afastam os jovens dos espaços teatrais?

Aprendi, durante a pesquisa, que são inúmeros os motivos que podem afastar pessoas de espaços culturais – motivos estes que envolvem condições financeiras, desigualdades, distâncias físicas e simbólicas, entre muitos outros; e que minha pesquisa não poderia abordar todos essas razões. Assim, quando surge a oportunidade de fazer um trabalho de formação de espectadores com esse grupo de jovens, acreditei que eles deveriam ser o ponto de partida para que fosse possível elaborar as práticas e atividades, e não o contrário. Claro, até pela disponibilidade de peças e de horários do grupo, foi necessário fazer diversas adaptações. Mas acredito que aprender a “língua” das pessoas com que trabalhamos seja um dos passos mais essenciais. Ou seja, é preciso entender o que eles querem, o que deixam de querer, é preciso construir um vínculo com esses adolescentes ouvindo o que eles têm a dizer. Assim, acredito que seja muito mais fácil que eles, no futuro, relembrem desses passeios com afeto, unindo boas experiências com o ato de assistir a um espetáculo teatral.

Como sua experiência e atuação no cenário teatral curitibano influenciou sua abordagem e perspectiva neste estudo?

Nesse sentido, acredito que promover um projeto de formação de espectadores pode ser um pouco mais “fácil” do que parece – entre algumas aspas, hehe. Como disse, me mudei para Curitiba para começar o curso na FAP, então eu não conhecia praticamente nada do cenário cultural da cidade. Fui aprendendo com o decorrer das aulas, conhecendo colegas que trabalhavam em escolas de teatro aqui, companhias ali, fazendo estágios, assistindo espetáculos, etc. O que quero dizer é que existem muitas possibilidades culturais em uma cidade grande como Curitiba, basta ser um pouquinho curioso que você já consegue encontrar oportunidades muito ricas para promover projetos como esse. Para levar um grupo ao teatro, não precisa ser necessariamente em uma peça gigantesca, cara, com atores “globais” no teatro mais prestigiado da cidade. Diversas companhias profissionais promovem sessões fechadas para escolas e grupos do tipo, possibilitam que espectadores vejam ensaios abertos, vários grupos talentosos apresentam espetáculos gratuitamente e fazem apresentações extras se necessário. O desafio maior está na logística desse processo, como encontrar o transporte adequado, como encaixar horários e coisas assim, que podem não ser tão simples. Curitiba é efervescente nesse sentido, então as possibilidades puderam ser bem expressivas.

Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao conduzir esta pesquisa?

Até como disse antes, a logística pode ser bem desafiadora. A questão do transporte foi um exemplo bem claro sobre isso. No início, pensava que estruturar atividades relacionadas às peças seria mais difícil do que o “simples” ato de levar esses jovens ao teatro, mas estava enganado. Esquematizar a questão do transporte é um desafio que mostra como a distância física é uma barreira bem incômoda. Curitiba tem um centro muito bem estruturado, e quase todos dos seus principais pontos turísticos, como o Jardim Botânico, o Museu Oscar Niemeyer e a Praça do Japão, por exemplo, estão bem próximos – com uma bicicleta você visita esses três lugares tranquilamente numa mesma tarde. Contudo, pessoas de fora podem pensar que a cidade toda é assim, o que não é verdade. O centro de Curitiba é uma área relativamente pequena se comparado com os bairros que circulam a cidade. E essas pessoas, que moram em bairros mais afastados e periferias, não aparecem no cartão postal da capital. Assim, promover uma ida ao teatro pode significar, muitas vezes, um desafio nessa questão do transporte. Isso até responde um pouco das perguntas anteriores, sobre os motivos que causam esse distanciamento entre pessoas e teatro. A barreira física acentua bastante as desigualdades, dificultando o acesso à cultura. Por isso é tão importante incentivar e cobrar que cada vez mais espaços culturais sejam construídos e desenvolvidos pela cidade toda, não só na área central.

Durante sua pesquisa, houve algum momento ou descoberta que o surpreendeu?

Trabalhar com adolescentes é sempre um desafio muito prazeroso. Eles podem ser difíceis no começo, mas acredito que seja justamente o papel do professor-mediador “decifrar” o seu universo para construir uma boa relação com eles. Então o momento de descoberta mais marcante para mim foi quando um deles me chamou de amigo. Ali eu vi que essa barreira que costuma existir entre educadores e educandos havia se transformado em uma ponte. Eles estavam abertos para os passeios, assim como eu havia estado aberto para escutá-los.

Pode nos dar um exemplo prático de como o convívio e a experiência no teatro podem
impactar a percepção de um jovem espectador?

A ida ao teatro pode ser bem traumática, na verdade. Levar um jovem a uma peça extremamente rasa e didática de um modo completamente impositivo pode matar toda a possibilidade de que aquele jovem volte a se interessar pelo teatro algum dia no futuro. Por isso eu digo que aprender a “língua” do estudante é tão essencial. Estabelecer um convívio enriquecedor é compartilhar as mesmas guloseimas durante o piquenique, é dar o play em um funk que venha da playlist deles durante o trajeto do passeio, é exercer autoridade sem exagerar na rigidez. Isso tudo contribui que a experiência de assistir a um espetáculo teatral seja tão prazerosa quanto a sair com os amigos, porque as duas atividades fizeram parte de um mesmo momento.

Como a mediação teatral pode ser usada efetivamente para fortalecer o vínculo entre os
espectadores e as peças?

As práticas de mediação teatral buscam “desmitificar” o espetáculo, ou seja, facilitar um maior entendimento acerca da peça assistida sem fazer uma mera imposição do ponto de vista de mediador. E isso pode ser feito por inúmeras maneiras. Promover um debate acerca da história da peça, relacioná-la a um fato que faça parte do cotidiano dos estudantes, solicitar que façam desenhos sobre o que assistiram, promover jogos teatrais que sejam semelhantes ao que os artistas da peça fizeram na obra… as possibilidades são quase que infinitas. Ao mesmo tempo, essas atividades são extremamente úteis quando os jovens relembram da ida ao teatro como um todo (pedir para que um aluno conte aos colegas que não estavam presentes sobre o passeio, por exemplo). Isso tudo fortalece a noção do quão bacana foi ser um espectador naquele dia.

Como você acha que as descobertas de seu estudo podem ser aplicadas em Salvador ou
em outros contextos?

Alguns signos são universais. O jovem de Curitiba pode não escutar a mesma música do jovem de Salvador, mas certamente eles têm um ritmo favorito salvo na playlist do smartphone. As peças teatrais podem ser diferentes, mas certamente as duas cidades têm manifestações artísticas riquíssimas acontecendo simultaneamente. Assim como os pontos positivos, os negativos também podem persistir: é infelizmente comum que cidades grandes tenham áreas mais afastadas dos centros, com moradores que não têm o mesmo acesso aos espaços culturais. Assim, vejo que, por mais que cada local tenha as suas peculiaridades, os desafios podem ser bem semelhantes, assim como as conquistas. Agora fiquei morrendo de curiosidade imaginando qual guloseima seria saboreada em uma ida ao teatro com jovens soteropolitanos, ou em qual local poderíamos passear após o espetáculo!

Quais são seus planos para pesquisas futuras nesta área?

Tenho um grande desejo de estudar a relação entre público e teatro pela questão do pertencimento. Em até que ponto a sensação de não se sentir pertencente a um espaço cultural pode representar uma barreira para que uma pessoa não se sinta confortável em frequentar tal local? Se meus planos se concretizarem, pretendo estudar essa questão muito mais a fundo em um futuro próximo, como projeto de mestrado.

Para jovens que talvez estejam hesitantes em relação ao teatro, qual mensagem você
gostaria de transmitir a eles?

Acho que ser espectador e fazer teatro é isso mesmo: um eterno friozinho na barriga. Do iniciante ao mais experiente, algo está errado se você não tem esse nervosismo saudável. Mas depois que você pisa no palco, os deuses do teatro dão conta do resto. Fazer e assistir espetáculos é sempre uma delícia, uma aventura, uma maluquice, uma canseira, um prazer, uma sensação única! Minha mensagem é para que você experimente, se abra para novas possibilidades e se permita se apaixonar por essa arte tão bonita.

[1] Taylon Padilha Nizer, UNESPAR – Campus de Curitiba II – FAP Licenciado em Teatro pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar) – campus de Curitiba II/Faculdade de Artes do Paraná (FAP). É professor e pesquisador, tendo a mediação e recepção teatral como foco de sua pesquisa. Desde 2018 estuda e atua no cenário teatral curitibano, em especial na área educacional, participando de projetos e estágios pela Universidade. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4884610031023422

Doctor Duck
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Doctor Duck é o alter-ego misterioso da equipe da Duck Paper, a papelaria online. Com sua mente brilhante e anos de experiência em técnicas de estudo e organização, ele é o guru da produtividade e adora experimentar novos materiais e técnicas. É uma fonte valiosa de conselhos e dicas para qualquer pessoa que busque inspiração e motivação para alcançar seus objetivos. Seus artigos são divertidos e repletos de ideias inovadoras, sempre encorajando seus leitores a serem mais criativos e pensar fora da caixa.

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